Em um momento em que a inclusão precisa deixar de ser somente uma ideia e se tornar prática concreta, algumas propostas recentes visam reduzir o impacto das barreiras sensoriais enfrentadas por alunos com necessidades especiais. A iniciativa apresentada por um vereador da cidade de Jundiaí reforça a importância de ajustar regras que parecem pequenas, mas que para certos estudantes fazem toda a diferença no cotidiano escolar. Permitir que crianças possam andar descalças ou apenas de meias em sala de aula, especialmente quando há hipersensibilidade tátil, configura uma forma de reconhecimento das diferentes formas de sentir e perceber o mundo.
Outra medida defendida leva em consideração a sensibilidade auditiva. Ambientes escolares cheios de ruídos ou com alarmes sonoros padronizados podem causar desconforto a quem vive com transtornos que amplificam os estímulos auditivos. Substituir sinais sonoros por alternativas menos invasivas pode trazer melhora significativa na atenção, no aprendizado e no bem estar emocional desses alunos. A proposta sugere que essas adaptações sejam incluídas em política municipal, de modo que escolas estejam legalmente obrigadas a providenciá-las.
Além de alterações nas normas de circulação e vestimenta dentro da sala de aula, também se insere no debate o direito de levar alimentação pessoal, mediante laudo médico. Esse detalhe incorpora mais autonomia e segurança alimentar, evitando reações adversas ou situações em que a criança se veja obrigada a comer algo que não tolera. Proporcionar esse tipo de flexibilidade é parte do respeito às diferenças individuais — tratar cada aluno conforme suas necessidades sensoriais, físicas e emocionais.
Para que tudo isso não fique apenas em papel, é essencial que haja comprometimento do poder público com a fiscalização e implementação dessas adaptações nas escolas. Professores, direção, secretarias municipais e gestores precisam estar preparados e informados sobre como agir em casos de hipersensibilidade sensorial. Formação continuada, capacitação específica, investimento em ambientações e recursos adequados são etapas indispensáveis para que os direitos dos estudantes sejam de fato garantidos.
Também é vital que a sociedade entenda que essas mudanças não representam privilégio, mas necessidade. Num contexto em que muitos sabemos que crianças com condições de neurodesenvolvimento enfrentam desafios frequentemente invisíveis, essas propostas representam justiça. Inclusão verdadeira não é adaptar só o que é confortável para a maioria, é garantir que todos possam participar, aprender e crescer em condições dignas, com respeito às suas diferenças.
O projeto em pauta na Câmara de Jundiaí reafirma esse compromisso com o cuidado e com os direitos das crianças. A adaptação sensorial, seja no vestuário, no som ambiente ou no que dizem respeito aos estímulos físicos e auditivos, precisa ser vista como parte integrante de qualquer política educacional. Não se trata de facilitação, mas de garantir que o ambiente escolar seja acessível de fato a todos que dele participam.
É importante que as famílias conheçam essas propostas, participem das discussões e acompanhem como são implementadas nas escolas. A transparência no processo legislativo e a escuta das pessoas diretamente afetadas ajudam não só a melhorar o texto das leis, mas também sua aplicação prática. Quando a comunidade escolar opera em parceria, os ajustes feitos têm muito mais chance de alcançar seus objetivos.
Por fim, essas iniciativas refletem uma mudança cultural mais ampla, que exige empatia, entendimento e ação concreta. Adaptar o espaço educativo para acolher melhor alunos com diferentes sensibilidades é um passo fundamental rumo a uma sociedade mais justa. O reconhecimento de necessidades específicas transforma-se em políticas públicas eficazes quando há vontade política, participação social e compromisso institucional.