Alvo de uma operação da Polícia Federal, Filipe Martins, ex-assessor do governo Jair Bolsonaro (PL), foi preso na manhã desta quinta-feira (8).
Martins foi encontrado no apartamento de sua namorada, em Ponta Grossa (PR), durante cumprimento de mandado. A Polícia Federal levou Filipe para Curitiba, onde será preso.
Conheça os alvos da operação sobre tentativa de golpe em 2022
Filipe Garcia Martins Pereira, nascido em Sorocaba (SP) , assumiu o cargo de assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República. A nomeação foi divulgada no Diário Oficial da União em janeiro de 2019, logo no início do governo Bolsonaro.
Martins, que também morou em Votorantim (SP), estudou Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UNB).
No cargo, Filipe atuava como intermediário entre o ex-presidente e o Ministério das Relações Exteriores.
Pelas redes sociais, Filipe também se apresenta como professor de política internacional e analista político. Desde as eleições presidenciais de 2022, ele não realizou mais nenhuma publicação.
Participação na minuta do golpe
Bolsonaro, ex-ministros e militares são alvos da PF
Conforme a investigação da Polícia Federal, Filipe Martins foi apontado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid como o responsável por entregar a Bolsonaro a minuta de um documento que previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a realização de novas eleições no país – medidas que não tinham amparo constitucional e, na prática, representariam um golpe de Estado.
Martins teria recebido assessoria jurídica de um professor de direito administrativo e constitucional na elaboração do documento.
De acordo com a apuração da CPI, Bolsonaro recebeu o documento das mãos de Filipe Martins, leu e pediu alterações na ordem do texto, decidindo manter apenas a prisão de Moraes e a convocação de um novo pleito eleitoral.
Defesa de Filipe Martins
Segundo o advogado de Filipe Martins, João Vinícius Manssur, a petição para o procedimento de busca e apreensão e prisão contra o ex-assessor está em segredo de justiça. A defesa alega que não teve acesso à decisão e que solicitou os autos do processo para se manifestar, posteriormente.
Investigado por gesto racista
Em junho de 2021, Filipe Martins foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal, por um gesto feito por ele em uma sessão no Senado, em março daquele ano.
O sinal de “OK”, feito pelo ex-assessor, é usado por grupos extremistas e foi classificado como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização dos Estados Unidos que monitora crimes de ódio.
Segundo o MPF, Martins “agiu de forma intencional e tinha consciência do conteúdo, do significado e da ilicitude do seu gesto”.
Ainda de acordo com o MPF, Martins teria um “histórico de menções a símbolos de extrema-direita”. Clique aqui para ver os casos.
Martins era da chamada “ala ideológica” do governo, ligado ao escritor Olavo de Carvalho, e também é de confiança dos filhos de Bolsonaro. Na época, embora o Palácio do Planalto tenha considerado a exoneração do exoneração do assessor, ele continuou no cargo.
Tentativa de ocultar presença
Em 2021, a Polícia Federal apontou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que uma advogada tentou ocultar, nos registros oficiais, a presença de Filipe Martins na tomada de dois depoimentos no inquérito sobre a atuação de uma milícia digital no país.
Martins esteve presente nas oitivas dos empresários norte-americanos Jason Miller – ex-assessor de Donald Trump e fundador de uma “rede social de direita” – e Gerald Brant, amigo da família Bolsonaro.
‘Alinhamento com Trump’
O ex-assessor era defensor de um alinhamento com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em 2019, ele chegou a publicar uma foto ao lado de Trump afirmando que “uma aliança estratégica entre Brasil e EUA em torno de uma visão de mundo e de uma filosofia comuns será decisiva na defesa do Ocidente”.
Na mesma publicação, ele utilizou o termo “Deus Vult!”, que significa “Deus quer”, que foi utilizada nos últimos anos por integrantes da extrema-direita, que se espelham em símbolos da Idade Média e das cruzadas para defender, entre outras coisas, a superioridade de grupos brancos, cristãos e conservadores em relação a outros, como muçulmanos.
Operação “Tempus Veritatis”
Ao todo, a PF cumpre 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva. Há ainda medidas cautelares, como proibição de contatos entre os investigados, retenção de passaportes e destituição de cargos públicos.
Operação da PF contra tentativa de golpe nasceu do inquérito das milícias digitais
Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A operação foi chamada pela Polícia Federal de “Tempus Veritatis” – “hora da verdade”, em latim.